A Câmara Municipal de Ouro Preto decreta:
Art. 1º - Fica concedido Título de "CIDADANIA HONORÁRIA IN MEMORIAN" a Sra. Barbara Heliodora Guilhermina da Silveira pela relevância para memória de Ouro Preto e da Inconfidência Mineira.
Art. 2º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Justificativa:
No dia 24 de maio de 2019 completará 200 anos de morte daquela que é considerada a grande heroína da Inconfidência Mineira. Bárbara Heliodora foi uma mulher que viveu a frente de seu tempo.
Nascida como Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, ela foi uma aguerrida lutadora social no período da Conjuração Mineira (1789) e é considerada a primeira poeta do País e também ativista política brasileira. É de Bárbara Heliodora o primeiro registro, no Brasil Colônia, de uma mulher usando a pena para escrever poesia nestas terras. Bárbara é conhecida hoje como heroína da Inconfidência Mineira e a primeira mulher que se tem noticiais de participar de uma reunião politica, pois teve um papel determinante no movimento, muito mais do que apenas ser a musa inspiradora do poema Bárbara Bela de Alvarenga Peixoto, seu marido.
Nascida em São João Del Rei, Minas Gerais, em 1759, Bárbara foi uma mulher que em toda sua vida agiu com coragem e fibra. Aos 20 anos se apaixonou pelo poeta Alvarenga Peixoto, a ligação entre os dois foi marcada pela harmonia, romantismo e companheirismo. O casal teve quatro filhos.
Segundo Aureliano Leite, no livro "A Vida Heroica de Barbara Heliodora", a presença de Bárbara foi fundamental na vida de Alvarenga Peixoto: “Ela foi a estrela do norte que soube guiar a vida do marido, foi ela que lhe acalentou o sonho da inconfidência do Brasil… quando ele, em certo instante, quis fraquejar, foi Bárbara quem o fez reaprumar-se na aventura patriótica. Disso e do mais que ela sofreu com alta dignidade fez com que a posteridade lhe desse tratamento de Harmonia da Inconfidência’’.
O casamento durou 10 anos, período da produção poética de Heliodora. Em 1789, época da Conjugação, Alvarenga Peixoto foi preso e arrastado de São João Del Rei ao Rio de Janeiro, sendo levado para a fortaleza da Ilhas das Cobras e, depois, ele seria mandado para África, onde morreria em 1793.
Suas lutas e conquistas nos surpreendem mesmo atualmente, mas ocorreram há 230 anos, época marcante do preconceito e violência contra as mulheres.
Após a prisão de Alvarenga Peixoto, Barbara Heliodora não mais escreveu, teve a metade dos seus bens confiscados e passou a ser discriminada por toda a sociedade da época. Viúva, passou a se dedicar à educação dos quatro filhos e à administração dos bens restantes indo morar na Vila de São Gonçalo da Campanha. Em 1795 ela sofreu outra perda, Maria Ifigênia, a primeira filha do casal, em decorrência de uma queda de cavalo veio a falecer. Figura de expressão na Inconfidência Mineira, Bárbara foi muito tempo retratada, em livros de história inclusive como demente louca, como quem andava esfarrapada pela Ruas de São Gonçalo da Campanha falando Bobagens e loucuras.
Neste século alguns escritores como Aureliano Leite, lutaram para resgatar a verdade de sua vida. Em "A Vida Heróica de Bárbara Heliodora" Leite afirmava que Bárbara viveu seus últimos vinte e tantos anos em perfeito juízo, nesse período cuidou dos negócios da família, foi admitida da ordem 3a. do Carmo, de São João Del Rei e morreu em São Gonçalo do Sapucaí, onde vivera a metade de sua vida, aos 60 anos de idade, vítima de tuberculose: "A uma louca e indigente não se dedicaram exéquias dessa pompa". Para Aureliano Leite, Houve uma criação em torno da figura de Heliodora. Lendas que escondem dos brasileiros a verdade e que são desmentidas em palavras como a do escritor Uruguaio Rodrigues Fabregat (ver baixo), que qualifica Bárbara Heliodora de Mulher do Novo Mundo, colocando-a entre as mães da epopéia do Novo Mundo:
"…e esta outra, também de sua carne vem, grande e profética: que traz em seus lábios de Mulher, gladiadora ardente, clamores de despertar; que traz em suas mãos uma bandeira nova e alça sobre multidões estremecidas; que traz em sua mensagem um desejo de liberdade, um credo republicano que, com ele sobe até a cúpula de seu calvário e da história: que junto às minas de ouro das rapinas imperiais, fala com voz de brasileira, gente a proclamar direitos e conquistá-los; esta, de Vila Rica, em Minas Gerais companheira da inconfidência revolucionaria na saga heróica de VGRT e na morte mártir, esta mulher do novo mundo - oh, mãe epopeia do Novo Mundo!- cravada em seu madeiro de sacrifício com quatro escravos ardentes de Cruzeiro do Sul… Bárbara Heliodora!"