Senhor Presidente,
Solicito a Vossa Excelência, nos termos regimentais desta Casa, que ouvido o Plenário, seja a presente INDICAÇÃO encaminhada ao Prefeito Municipal solicitando que seja encaminhado ao Prefeito municipal e as secretarias municipais competente o pedido de providências poara Instituir a Festa de Nossa Senhora da Lapa do Distrito de Antônio Pereira como Patrimônio Cultural e Imaterial de Ouro Preto. Aconselhamos o poder executivo a convidar as empresas locais a contribuírem com apoio de ordem econômica ao projeto.
JUSTIFICATIVA
Festa religiosa de Nossa Senhora da Conceição da Lapa,
Segundo os registros históricos, em 1716, foi erguida a primeira igreja no até então povoado de Bonfim do Mato Dentro (atual distrito de Antônio Pereira), toda em pedra de canga, dedicada à Nossa Senhora da Conceição. Essa igreja foi queimada por volta de 1800 e suas ruínas atualmente se impõem sobre a paisagem urbana do distrito. No que diz respeito à devoção a Nossa Senhora da Conceição da Lapa, a tradição oral dos moradores de Antônio Pereira é a principal fonte. Segundo os relatos, por volta do ano de 1722, a região que fica próxima a uma gruta, era dotada de grandes arbustos e os habitantes se dirigiam ao local para apanharem lenha. Numa dessas corriqueiras investidas, algumas crianças, que acompanhavam suas mães, se embrenharam para o interior da gruta, ao acompanharem um coelho selvagem. Em um dos vários salões da lapa, avistaram uma bela moça, toda envolta em uma luz branca que lhes pediu para construírem uma capela em seu louvor. Contaram para suas mães, mas não receberam crédito. A aparição da moça se sucedeu por vários dias, até associarem-na à Nossa Senhora. Ao entrarem na gruta mais uma vez, acharam uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. A escultura da virgem foi levada para Igreja Matriz, que já era dedicada a ela. Mas, estranhamente, no dia seguinte a imagem desapareceu e foi reencontrada na gruta. Levada novamente ao altar da Matriz, a “fuga” ocorreu outra vez. Atendendo ao “desejo” da imagem, foi construído um altar dentro da lapa, entre pedras e estalactites, e ela foi ali entronizada. Anos depois uma imagem de Nossa Senhora da Conceição foi trazida de Portugal e colocada no altar da capela no interior da gruta (imagem presente na comunidade até os dias atuais). A notícia do ocorrido se espalhou pela região e um número cada vez maior de devotos passou a comparecer para fazer pedidos à Nossa Senhora da Conceição da Lapa, que desde os primórdios ganhou fama de milagreira.
A festa em homenagem à padroeira foi se tornando a principal marca do lugar, ao lado de tantas outras festas religiosas que aconteciam no distrito de Antônio Pereira, como as de Nossa Senhora do Rosário, São Sebastião e Santo Antônio. Os diversos momentos de contingência econômica da localidade não afetaram a realização dos festejos em torno de Nossa Senhora da Lapa, uma vez que o fluxo de romeiros por ocasião da celebração foi sempre constante durante as edições da festa. Em quase três séculos de sua realização o número de romeiros que se deslocam para Antônio Pereira, no dia de assunção à Nossa Senhora, só aumentou e as facilidades atuais de transporte estimularam ainda mais a regularidade de ida ao santuário, por parte dos milhares de devotos da santa. A fé e o requinte dos festejos dedicados a Nossa Senhora da Lapa cristalizaram-se e hoje esta é a principal festa realizada no distrito.
Os festejos em torno de Nossa Senhora da Lapa, padroeira de Antônio Pereira, tem um caráter singular, seja pela participação de grande número de romeiros, seja pelo espaço em que se realizam as atividades, com destaque para a gruta, onde, segundo a tradição oral, aconteceram as aparições da Virgem e foi encontrada a imagem da santa. Os moradores do distrito se mobilizam para deixarem a localidade preparada para o jubileu em torno de sua padroeira. São quinze dias de celebrações ininterruptas dedicadas à Nossa Senhora da Lapa, mas as atividades principais e tradicionais da festa se concentram nos dias 14 e 15 de agosto. No dia 14 ocorre a procissão com a imagem histórica de Nossa Senhora e com a bandeira da padroeira, partindo da antiga Matriz (Igreja Queimada) até o alto da gruta. As ruas por onde passa a procissão, são enfeitadas com bandeirolas, flores artificiais, balões, bambus e fitas coloridas. A decoração das ruas fica sob a responsabilidade dos devotos que residem no trajeto da procissão, assim, cada família ornamenta a área próxima à sua residência. O calçamento das vias também é pintado para a passagem do cortejo. No terreno em frente à gruta os enfeites também recebem atenção especial. O show pirotécnico, que acontece na noite do dia 14, após a missa campal, é feito por uma empresa especializada contratada para tal fim, sendo um grande espetáculo para a plateia de fiéis. As dezenas de barracas que se espalham pela ladeira de acesso à gruta vendem de tudo aos milhares de participantes da festa: além dos comes e bebes, roupas, imagens religiosas, bibelôs, produtos eletrônicos, brinquedos, etc. Dessa forma, o cenário está preparado e o sucesso da festa se repete a cada ano, atraindo um número cada vez maior de romeiros e visitantes, que vem para apreciar as comemorações à Nossa Senhora da Lapa, tomando-as como fenômeno de fé, de devoção, de celebração festiva e de expressão da cultura local.
Após a missa as pessoas se dirigem para dentro da gruta, onde foi encontrada imagem da padroeira há quase trezentos anos. Ali deixam velas em homenagem a Nossa Senhora, fazem os seus pedidos e agradecem as graças alcançadas. O movimento dentro da gruta é constante nos dois principais dias da festa, 14 e 15 de agosto; e mesmo durante todo o ano, já que a presença de visitantes e romeiros é comum. Após a missa, há o levantamento do mastro com a bandeira de Nossa Senhora da Lapa e o show pirotécnico que enche de alegria e deslumbramento as pessoas ali presentes. Seguinte a queima de fogos, os participantes da festa se reúnem em torno das várias barracas montadas pelo caminho que leva até a gruta. As crianças e até mesmo os adultos se entretêm no parque de diversões montado exclusivamente por ocasião das comemorações de Nossa Senhora da Conceição da Lapa.
No dia 15 de agosto acontecem várias celebrações e o batizado de crianças. A data escolhida pelos pais das crianças visa coincidir com as comemorações da padroeira. Durante a manhã, o movimento de romeiros continua em direção à gruta, vindos de todos lugares de Minas Gerais, e até mesmo de outros estados e do resto do mundo. A missa festiva desse dia é acompanhada por milhares de pessoas. Dentro da gruta vários padres são procurados para as confissões individuais dos devotos. Os milhares de romeiros que vêm para a Festa da Lapa, se revezam durante todo o dia na visitação à gruta e nas ladeiras que levam até o local: o movimento é contínuo e intenso. À tarde, há uma nova procissão, que ruma apara o encerramento da festa da padroeira. Dessa vez, o cortejo segue o curso em direção à Igreja das Mercês. Pelo mesmo trajeto, a imagem de Nossa Senhora da Lapa é levada no andor e desce pelas ladeiras do distrito, sob o acompanhamento da banda local e de muitos devotos. A imagem fica abrigada no templo das Mercês e ali acontece uma pequena celebração para aqueles moradores que já não conseguem subir até a área da gruta e acompanhar todas as atividades da comemoração. Ao início da noite do dia 15, há à última procissão, com um menor número de participantes, retornando com a imagem para o espaço da gruta.
A festa de Nossa Senhora da Lapa tem um caráter bastante duradouro nas suas práticas mais importantes. Algumas poucas modificações pontuais não acarretaram maiores alterações aos olhos dos participantes da festa. O fato mais significante foi a sua transformação em jubileu. Isso faz com que os primeiros quinze dias do mês de agosto sejam dedicados às comemorações de Nossa Senhora da Lapa, mobilizando toda a comunidade do distrito. Outro aspecto de intervenção na festa foi a reativação da banda de Antônio Pereira, em 2001, de participação fundamental nas procissões e missas. Se tomarmos o tempo histórico em sua longa duração, fica difícil detectarmos a evolução dos festejos e suas possíveis alterações, mas é sabido e nos confirmado pela oralidade dos moradores, que a festa tem um caráter muito mais amplo atualmente, visto o número de visitantes que aumentam a cada ano e concorrem para a participação na festa da Lapa. O movimento de romeiros sempre existiu em Antônio Pereira, desde os anos de aparição da imagem, nos idos do século XVIII. Esses romeiros vinham geralmente a cavalo ou carroça, e arranchavam na localidade durante os dias de comemoração à padroeira. Famílias inteiras chegavam para a festa e eram recebidas nas residências do distrito.
A evolução do transporte facilitou o deslocamento dos devotos até Antônio Pereira. Os fiéis de Nossa Senhora da Lapa vêm tanto da região próxima ao distrito, quanto de outras cidades de Minas Gerais, e até mesmo de outros estados. Um traço significativo reparado dentre as atividades da festa foi quanto ao trajeto da segunda procissão, realizada no dia 15, que antigamente ia até as ruínas da Matriz de Nossa Senhora da Conceição até voltar para a Igreja de Nossa Senhora das Mercês. Atualmente essa procissão foi encurtada, não chegando mais até a igreja queimada.
A inserção do Conselho Comunitário de Pastorais (CCP) também é outro ponto de relevância na realização dos festejos de Nossa Senhora. O CCP é um órgão sob a égide da Paróquia, que atua em várias frentes relativas à ação da Igreja dentro da comunidade. Assim como em outras localidades de Ouro Preto, o Conselho foi implantado em meados dos anos 1990 e passou a atuar na elaboração das festa.